Aula 08

18/06/2010

09/06/2010 - quarta-feira - 02 horas aula

   Seguindo as orientações, hoje pedi à turma que se organizasse em grupos. Antes de pedir a escrita de quadrinhas entreguei folhas em branco para cada grupo para que fizessem perguntas. Deveriam ser 03 perguntas elaboradas por grupo. Depois disto passei as folhas a grupos diferentes para que tentassem responder as perguntas feitas pelos colegas. Notei a grande dificuldade de leitura e interpretação, pois de todo material que já vimos houve confusão na elaboração do proposto. Uma das alunas perguntou se as perguntas do seu grupo serviam, mas quando vi entendi que eles se confundiram. Mostraram-me duas questões que retiraram ao poema Nome da gente (de Pedro Bandeira), questões estas que faziam parte do texto, mas que não teriam uma resposta. Daí eu pude compreender que preciso “cutucá-los” para que encontre os vazios do texto (ISER, 1996) e a partir disto buscarem maneiras de responderem àquilo que lhes parece mais difícil.
   Disse a eles que tentassem responder às questões e deixassem em branco aquelas que não conseguissem encontrar uma forma de fazê-lo. Para as que ficaram em branco vou analisar e responder a eles em outra aula.
   Finda a primeira parte da aula, partimos para a escrita de quadrinhas (no quadro, pois faltou tempo de cumprir o previsto para a aula do dia 07). Noto que é necessário instigar essa turma. Falta-lhes jogar com as palavras, desacomodarem a visão de que a aula de Português é para memorização de regras gramaticais e cópia de conteúdos e exercícios do quadro. Sim, é claro que deve-se sistematizar os assuntos e exercitar seu uso, mas a escrita precisa ganhar espaço, principalmente porque é o USO DA LÍNGUA. Através da produção textual o aluno poderá verificar os usos gramaticais e a ortografia.
   Sei que para o que eu gostaria é preciso tempo e o estágio vai, apenas, cumprir uma pequena parte do ano letivo. Então o único que eu espero é poder semear uma ideia: mostrar para minha turma que ler poemas é um bom começo para serem bons leitores.
   O trabalho em grupo não diminuiu a conversa, mas serviu para os alunos pensarem um pouco sobre o tema central do meu projeto: o poema. Surgiram dúvidas pontuais, as quais tentei ajudá-los em cada grupo. E aqui seguem algumas delas:
  • A primeira a dizer não é bem uma dúvida e, sim, uma observação que faço sobre o problema que apresentaram para elaborar questões. Precisei intervir em todos os grupos dizendo-lhes como, mais ou menos, precisariam agir sobre os textos que têm no caderno. Foi necessário conversar com eles a respeito do que eu esperava que fizessem.
  • Um dos grupos fez a pergunta “O que é fragmento de uma poesia?”. Neste caso percebo que eu vou ter que explicar-lhes o significado da palavra fragmento. Não expliquei sobre ela no dia em que a usei, até porque ninguém perguntou. Pode ter sido falta de sensibilidade minha não fazer, mas eu não teria como saber se conhecem esta palavra.
  • Outro ponto a esclarecer com a turma na próxima aula é sobre uma pergunta que este mesmo grupo fez: “Quem foi o maior poeta brasileiro?” O grupo que respondeu as questões confundiu poetas portugueses e brasileiros, mesmo que eu tenha contado que Fernando Pessoa e Florbela Espanca são portugueses. Também ficou confusa sobre essa questão a ideia de que haja um poeta de maior relevância para a Literatura Brasileira. Sobre isto preciso aclarar os pontos de vista.
  • E para terminar as dúvidas pontuais quero citar a pergunta que me fez um aluno. Queria saber o que é o eu-lírico, e tivemos uma boa conversa sobre o tema. Não foi um ato de explicação apenas. Foi um intercâmbio de pensamentos, onde eu expunha a respeito e ele ia compondo o significado com suas respostas, com os conceitos que ia criando. Foi um momento em que eu me senti muito feliz.
   Outro momento especial da aula de hoje (e comentei com minha regente) foi quando dentro de uma explanação para dois alunos (não lembro agora a pergunta) o assunto foi encaminhado até eu contar sobre Os Lusíadas e A Ilíada. Ah, lembrei, a pergunta era sobre quantas estrofes pode haver em um poema. O interesse que eles demonstraram em ouvir foi bastante confortante, mostrando um caminho que eu gostaria de ter encontrado no início do meu estágio. Tudo bem, dá tempo para tentar corrigir meu erro nas próximas aulas. Encontrei um modo de fazer interessante o que falo em aula. Ao menos com essa turma. Sendo mais exata: com alguns alunos.
   O que me intriga é o fato de sendo uma única pessoa me transformar em várias par conseguir me adaptar a certa situações em aula. Viro atriz, contadora de história, cantora (talvez), investigadora, perguntadora, historiadora e até palhaça, por que não? Há momentos em que até nisto nos tornamos, porque precisamos encontrar caminhos que façam nossa aula algo mais atrativo. Mas, é isso. Se precisamos, fazemos, ou ao menos tentamos.
 
Referência:
ISER, W. 1996. O ato da leitura: uma teoria do efeito estético. São Paulo, Ed.34, 191 p.
 
P.S.: Existem perguntas que serão sempre um ponto de interrogação, pois não existe uma receita exata para dar aulas. Fica tudo na intuição. Em colocar em prática teorias que baseiam nossos pressupostos e nos ajudam a refletir sobre o objeto de estudo. Às vezes penso que o mundo está virado de pernas pro ar, usando metáforas, porque o mundo jamais teve pernas. Mas, é o seguinte, eu posso ser sonhadora, uma idealizadora insana que acredita ser capaz de plantar uma semente no terreno (in)fértil que é o da educação. Os papéis parecem invertidos: professor tem pouco direito a voz, aluno com direito a não pronunciar uma única palavra. É tão louco isso, lembrar que os alunos de hoje serão os trabalhadores, políticos, médicos, advogados, etc. de amanhã. Quando penso nisto me assusta imaginar que por mais que tenhamos boa vontade notamos uma juventude sem vontade de ser melhor como ser humano, como cidadão. Grande parte da minha turma gosta de brincar o tempo todo, de jogar bolinhas de papel, dar soco no colega, falar bobagens, e quando se pergunta algo importante ficam com "cara de paisagem", fugindo de qualquer iniciativa de se começar um debae sobre um assunto que servirá para seu conhecimento. Sabe, é decepcionante ver alunos de 14 e 15 anos agindo como crianças de 05. Mais decepcionante ainda é ter em aula uma aluna de 14 anos, moça toda arrumada, filha de professora, que não leva a aula a sério. O que será que ela pensa para seu futuro? Da turma ela é a menina que tem as atitudes mais infantis. Uma turma composta de muitos iguais apesar de diferentes. Há os raros chamados CDF, há os interessados, há os desconcentrados e a maioria, os "To nem aí". Esse parece ser o futuro da educação. Infelizmente.

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