Menino de mochila rosa

15/04/2010

Noite passada embarcou no ônibus um menino usando uma mochila rosa. Nessa mesma noite eu decidi tomar apenas um ônibus para voltar pra casa e da Uergs até o centro fui a pé. Primeira observação feita: um homem de moto conduzia uma moça cadeirante (uma cadeira motorizada), com a finalidade de protegê-la do trânsito. Logo mais adiante vários rapazes no posto de gasolina e nem vi se estariam bebendo, pois tinha pressa. Então, continuei e da Urcamp até o Centro Antoniano nada de especial, ao menos que recheie este texto.
Estando na parada de ônibus (aqui é diferente, não se diz 'ponto') vi quando um casal de namorados e uma amiga passava do outro lado da rua. Houve um momento em que o menino parou na frente da namorada e para quem via de longe parecia estar brigando. O modo como a moça balançava a cabeça dava a impressão de que discutiam, provavelmente por algo bobo, já que o namorado “tascou-lhe” um beijo e continuaram sua caminhada.
Era noite de jogos - tanto Copa do Brasil, Libertadores da América. Tinha também clássico Ba-Gua, traduzindo: Bagé x Guarany. E no Centro Antoniano a bola rolava num futebol de salão sem profissionais, um jogo de fim de noite para descontrair, correr, fazer exercício e tal. Na televisão mostravam Grêmio e Avaí, no rádio vários outros, um menino que estava por ali ditou todos os placares de jogos da noite até aquele momento. E era engraçado ver que cada um queria saber mais que o outro sobre classificação e próximos adversários.
O ônibus chegou, embarquei. No rádio a narração do Ba-Gua. Já estava em 51 min de jogo. Está bem, não entendo das regras, mas sei que o normal são dois tempos de 45, podendo passar um pouco, mas daí aumentar em seis, certamente algum problema teria acontecido. E lá vai o ônibus por seu itinerário, até chegar na curva da Emílio Guilain com Pe. Abílio. Há uma quadra do estágio Visconde de Magalhães Rossell (puxa, dizer todo o nome do estádio, que pomposo, não acham?), o estádio do Guarany, embarca no ônibus um menino de mochila rosa. Não um menino efeminado, ao menos não me pareceu e, sim, um garoto que deveria estar voltando de um jogo de futebol, pois trajava calção preto, camiseta verde escuro, chuteira e meião.
Estive lendo sobre a tradição de usar rosa apenas para as meninas e há diferentes versões, em uma delas diz que é em função de uma lenda europeia que dizia nascerem de uma rosa as meninas e os meninos de repolhos azuis. Pobres crianças, além de serem fadadas a viver estigmatizadas pelas cores, tinham de crer em lendas que diziam serem oriundos do reino vegetal.
E apenas para não me estender (vá que o leitor se canse de mim), conto que ao passar pelo estádio do Guarany havia uma confusão ao término do jogo, muitos homens tumultuados, nenhum vestindo rosa. Enquanto isso, no ônibus, o menino da mochila rosa seguia, quieto, sem sequer imaginar que hoje eu falaria dele para pensar nas situações que dizem ser mais tendentes aos homens ou às mulheres. E também porque fiquei muito contente em vê-lo usando uma cor de meninas.

P.S.: Eis um exemplo de como não saber terminar um texto.

1 comentários:

Anônimo disse...

Achei muito bom esse texto, porque falar de algo que as pessoas costumam levar para o lado do preconceito é complicado: "Imagina um menino de mochila rosa", mas não é assim. A pessoa não vai ficar mais homem ou mulher por causa de uma cor qualquer... Bom falar sobre assuntos polêmicos... Parabéns

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